sábado, 26 de julho de 2008

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O médium e os pintores

Desde o último dia 18, o baiano Florêncio Anton encanta cearenses da capital e do interior com apresentações de pintura mediúnica. Percorreu, em uma semana, Limoeiro do Norte, Quixeramobim, Aracati e vários bairros de Fortaleza. O ritual é o mesmo em todos os lugares: pequena palestra de abertura com apresentação e explicações sobre o tema, prece inicial, música ambiente... e começa o transe.

O público observa atento a transformação de Florêncio, que leva alguns minutos. De pé, atrás de mesa organizada para a pintura, ele se enverga ligeiramente, mãos sobrepostas e braços arqueados. Um gesto característico é o sinal para que o ajudante lhe entregue a tela em branco. Os movimentos iniciais são bruscos, aparentemente desconexos. À medida que passam os minutos, os contornos ganham forma e já é possível entrever uma típica natureza-morta. Vasos com flores são muito comuns na pintura atribuída a Espíritos. Mas dividem também espaço com paisagens e retratos. Olhos fechados na maior parte do tempo, o médium termina a obra, assina e exibe o resultado à platéia, enquanto escreve algo atrás da tela.

Em média, a sessão completa leva pouco mais de uma hora. Ao final, entre dez e vinte quadros foram produzidos. As assinaturas variam bastante. "Desde sacros, dos séculos XI e XII, até modernos, como Picasso, Tarsila do Amaral e outros", explica Florêncio. Até hoje, ele contabiliza cerca de 24 mil telas, assinadas por 105 nomes ligados à pintura.

O baiano garante que tem pouca afinidade com as belas artes. Diz que quase foi reprovado na escola, duranto o Ensino Fundamental, pelo mau desempenho nas aulas de Educação Artística. E que hoje em dia, o quadro não mudou. "Num sentido técnico, meu conhecimento em artes plásticas é mínimo. Num sentido histórico, até por respeito a todos esses Espíritos que têm se utilizado da nossa faculdade, eu já conheço alguma coisa", assegura.

Durante a apresentação de ontem, no teatro Nadir Papi Saboya, o público mais uma vez saiu impressionado com o espetáculo. Pessoas de todas as idades comentavam, na saída, sobre as possíveis explicações para o que haviam acabado de ver. Aparentemente, só uma delas não via motivos para espanto: o artista plástico Roberto Galvão.

Com 36 anos de carreira e diversas exposições internacionais, o membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte foi sucinto. "As obras não são muito significativas, insignificantes até. De uma técnica profundamente elementar, espontânea, e com um resultado compatível com o tempo que ele gasta pra fazer a obra". Noutras palavras, Galvão não vê motivos para acreditar que haja, de fato, pintores famosos por trás dos quadros que saem das mãos de Anton.

Quem conversava com ele só esqueceu de perguntar o que Roberto acha do fato de a pintura ser feita de olhos fechados e até hoje, nunca ter se repetido... Pelo sim, pelo não, quem quiser, ainda pode conferir amanhã a última apresentação do médium baiano em Fortaleza (confira a agenda ao lado!)

3 comentários:

Anônimo disse...

Pede pra ele fazer igual!

Unknown disse...

Talvez, se ele soubesse que o rapaz pintou as telas com os olhos fechados, sua opinião fosse outra. Talvez, uma opinião menos desdenhosa. Mas, enfim, faço minhas as palavras do comentarista Allan: "Pede pra ele fazer igual!". Só acrescentaria: "e de olhos fecados".

Preferidos de Carmen disse...

Já se passou muito tempo, será que ele continua com a mesma opinião?
Deveriam consulta-lo novamente, para saber se ele procurou provas que confirmem sua tese ou se admite seu equivoco.